quarta-feira, 14 de maio de 2008

Adeus não, até já

Este domingo foi triste para o futebol. Aliás, como tantos outros domingos antes, e como muitos outros ainda teremos pela frente. E não o foi pelo drama das lutas por títulos ou subidas e descidas, pelo findar de uma época em que os resultados não corresponderam ao desejado e sonhado durante nove meses. Não, este domingo foi triste porque os relvados despediram-se de um senhor que tratava a bola como poucos: Rui Costa.
A primeira memória que tenho dele remonta a 1991. Na altura eu era um imberbe rapaz que começava a despertar para a magia do futebol, embalado pelos toques de veludo de Maradona e pelos movimentos de bailarina de van Basten. Ainda hoje, por causa destes senhores, continuo a ter uma simpatia pelo Milan e pela Argentina. Nesse Verão, muitos se recordarão, por certo, Portugal recebeu o Mundial de Sub-20, e tinha em campo uma das mais geniais equipas de sempre nesse escalão. Figo, Peixe, João Pinto, Jorge Costa, Paulo Sousa... Um oceano de talento que arrasou a concorrência. Mas na minha memória ficou gravado o nome do jogador que lançara um foguete frente à Austrália (creio que foi nas meias-finais, mas não tenho a certeza) que só parou no fundo das redes: Rui Costa. Esse golo, para este miúdo de 10 anos, marcou profundamente. O Rui, daí para a frente, passou a ser um ídolo, perdão, um Ídolo. Dias mais tarde, ele marcaria o penalti decisivo no desempate na final (curiosamente frente a um guarda-redes chamado... Dida) mas eu já decidira, antes disso, que era ele o meu favorito. E assim ficou.
Muitas estórias haveria por contar nesta minha relação especial com o 10. Em 17 anos vi-o jogar muitas vezes, felizmente algumas delas ao vivo, e muitos passes e golos magníficos poderia descrever. Mas o momento em que ele me conquistou como fã foi o mais marcante de todos. Esse golo pode até ter sido igual a tantos outros, mas, aos meus olhos de recém-apaixonado por futebol, tinha sido acabado de marcar o golo mais bonito da história do futebol.
Entre a sua primeira época profissional e a sua despedida, este domingo, Rui foi especial, não apenas por aquilo que foi fazendo dentro do campo mas sobretudo pela diferença que marcava fora dele. Nunca se assumiu superior por ser futebolista, nunca teve tiques de vedeta, nunca se colocou num pedestal. E, acima de tudo, num feito infelizmente cada vez mais raro hoje em dia, honrou sempre a camisola que vestia. Nem mesmo quando a Fiorentina se afundava em dívidas quis partir. Saiu para ajudar o clube, tal como já fizera quando saiu do Benfica. Nos três clubes que representou é lembrado já com saudade e muito carinho. São poucos os que se podem gabar de tal feito.
Agora começa uma nova vida, provavelmente bem mais difícil. Dos seus méritos como dirigente desportivo faremos as contas mais tarde, mas duma coisa eu estou certo: é de pessoas como o Rui (e já agora, como o Baía ou como o Figo) que o dirigismo desportivo português precisa para se regenerar. Esperemos que esta geração seja tanto de ouro atrás da secretária como o foi nos relvados. Por isso, em relação a ti, Rui, não posso dizer adeus. Prefiro um até já.

Nenhum comentário: