domingo, 13 de julho de 2008

Queirós e os putos

Quase um mês depois de Scolari ter anunciado que estava de saída da Selecção Nacional a Federação anunciou a contratação do seu sucessor: Carlos Queirós. Havia já algumas semanas que o seu nome circulava, a princípio apenas como rumor, mais tarde já com negociações declaradas abertamente, e, pelo que se foi ouvindo de dirigentes, treinadores e jogadores era que a escolha era mais ou menos consensual, coisa rara no futebol português. De facto, ficara a sensação que, a ser português, só podia mesmo ser Queirós. O braço direito de Alex Ferguson é, parece-me, o homem ideal para o futuro da Selecção; e não estou a pensar apenas no futuro imediato.
Durante os anos Scolari a Selecção principal acumulou bons resultados, e impressionou o mundo com o seu futebol de fino recorte técnico. A sequência de resultados é única na nossa estória marcada por quase qualificações, quase vitórias, e quase muita coisa. No entanto, ao mesmo tempo que os resultados do séniores alcançavam níveis muito acima da nossa média, os das selecções jovens caíam a pique. O fenómeno da geração de ouro, ao contrário do que muitas almas distraídas pensavam, não se repetiu, porque, na verdade, não se tratou de uma coincidência. Foi fruto dum trabalho árduo iniciado por Jesualdo Ferreira, muito bem continuado por Carlos Queirós e que caiu ao abandono após a saída deste, em 1993.
Não quero com isto dizer que sem eles não teria havido Figo, Rui Costa ou João Pinto. Há coisas no futebol deste trio que ninguém lhes poderia ensinar. Mas bons jogadores o nosso futebol sempre teve. Os campeões do mundo de 89 e 91 surgiram fruto de um trabalho desenvolvido por todas as associações, coordenado pelo gabinete técnico da Federação. Havia directivas do que procurar e desenvolver nos jogadores, para cada posição; havia uma ideia única do que deveria ser um jogador, e uma ideia comum para a estrutura e posicionamento táctico das equipas. Tudo isso se foi desvanecendo nos anos seguintes à saída de Queirós, até hoje, em que o seu plano não é mais do que um farrapo.
É por isso fundamental, e para bem do futuro da Selecção, que essas ideias sejam retomadas. Não podemos continuar a depender dos talentos que vão surgindo, porque isso sempre tivemos. Hoje em dia, os nossos novos craques, tirando honrosas excepções, são centrais do FC Porto ou médios do Sporting. Madaíl, ofuscado pelos holofotes e pelas vitórias do Sargentão, esqueceu-se da formação. Deixa (mas será que deixa mesmo, ou temos mais um tabu?) uma Federação rica em dinheiro, mas pobre, muito pobre, nesse nível. Esperemos que não tenha acordado tarde demais. Quanto a Queirós, espero que haja paciência da parte dos adeptos para não lhe pedirem a cabeça após a primeira derrota. Especialmente porque o seu trabalho será, ao contrário do de Scolari, mais um trabalho de fundo do que um sprint. O professor só aceitou abandonar a confortável posição que tinha em Old Trafford por um verdadeiro projecto, que lhe permita trabalhar para os resultados da Selecção A tanto no imediato como no seu futuro, e, por isso, devemos dar-lhe tempo, mesmo que os resultados não sejam, já, o que esperamos. Acredito que se lhe dermos tempo estaremos a ganhar uma equipa para o futuro.