quinta-feira, 24 de abril de 2008

Uma coisa chamada projecto

Para uma empresa ser bem sucedida no mercado, e ser capaz de atingir os seus objectivos, é necessário haver uma conjugação de variados factores, polvilhados aqui e ali com um pitada de sorte, bem regados com doses massivas de trabalho. Os seus líderes têm de ter consciência do tipo de trabalho que deve ser desenvolvido, e, a partir daí, definir uma estrutura sólida e os perfis desejados para cada lugar nessa estrutura. Todas as contratações devem obedecer a essa lógica; todos os novos empregados devem ter esse perfil pré-definido, para que uma alteração, mesmo que importante, tenha um impacto menor na produtividade da empresa.
O mesmo se passa com uma equipa de futebol. As equipas regularmente ganhadoras definiram, antes de iniciarem os seus ciclos de vitórias, um perfil adequado a cada posição da estrutura dirigente e, claro, do seu treinador, figura chave que será determinante para o sucesso do clube. Não se devem contratar treinadores ao acaso; caso contrário um dirigente arrisca transformar o seu clube num cemitério de treinadores (vide o caso actual do Sp. Braga). Acima da escolha do treinador tem de haver uma ideia base para o futebol do clube, que, a tornar-se vencedora, deve ser mantida; e caso o treinador que levou o clube ao sucesso abandone o clube, então quem lhe sucede deve ter uma forma de pensar e trabalhar se não igual pelo menos idêntica. A isto (e outras coisas mais, mas isso é pano para outras mangas) se chama um projecto.
Vem isto a propósito da escolha do novo treinador do Benfica. Desde que Luís Filipe Vieira assumiu a presidência do clube muitos foram os treinadores que passaram pelo clube. A saber: Camacho, Trapattoni, Koeman, Fernando Santos, e de novo Camacho. Quem encontrar semelhanças entre estes quatro senhores merece um prémio. Ano após ano ouvimos Vieira falar no perfil desejado, mas a ideia com que ficamos é que a escolha obedece apenas a um critério: o primeiro treinador de nomeada que se conseguir contratar. E, desta forma, ano após ano, os jogadores são forçados a começar tudo do zero. Podem dizer-me que o Benfica pouco ganhou neste período de tempo, e, por isso, faz sentido tentar alterar o rumo da equipa de futebol. É certo, mas depois de ter sido campeão, trocou Trap por Koeman, quando fazia sentido aproveitar a forte base defensiva criada pela Velha Raposa e contratar outro treinador da mesma escola.
Este ano, no entanto, algo mudou. Pela primeira vez ouço falar em nomes com alguma coerência. Todos os treinadores que vieram à baila são conhecido por serem organizados, metódicos e sólidos em termos tácticos. Parece, finalmente, haver um perfil, uma ideia, uma base que pode germinar num projecto. A confirmar esta possibilidade de visão a longo prazo está a notícia avançada hoje pela Bola, que dá conta que o contrato oferecido a Queiroz é superior a quatro anos. A transição de Rui Costa para o cargo de director desportivo (ainda por confirmar é certo mas já tida como válida por todos) não será alheia a este facto. Rui Costa poderá ser um factor positivo na estrutura dirigente do Benfica, já que pela primeira vez numa direção de Luís Filipe Vieira há alguém que realmente percebe de futebol. E seja qual for o nome escolhido (que até pode nem trazer os tão ansiados títulos ao clube da águia) sabemos que pelo menos desta vez não o será ao calhas, apanhando o primeiro nome famoso que surgir para aquelas bandas.

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